Aviso do Raposo

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sexta-feira, 15 de maio de 2009

CAPÍTULO 4 - Jean Claude(JC) pros íntimos, Van Dame pros inimigos

Raposo, O Idoso Odioso
(Jean Claude(JC)pros íntimos,
Van Dame pros inimigos)


Raposo hoje acordou um pouco quebrado, afinal Matilda o fez dormir no sofá da sala por causa do episódio do cinema prometido e não ido.

Ou melhor, Raposo acordou no sofá do Jean Claude, uma vez que era lá que o gatinho dormia.

Ou melhor, o sofá era do Jean Claude, a Sala era do Jean Claude, a Casa era do Jean Claude.

É assim que é.

Jean Claude era o dono da casa.

O dono do Raposo.

E até o dono da Matilda.

Ele simplesmente deixava os dois conviverem com ele no mesmo espaço, afinal eles sempre lhes davam leite, comida e quando ele permitia uns carinhos e afagos.

Como disse antes, Jean Claude achava que era um cachorro, pois cuidava da casa como se o fosse.

Até Bono, o Pastor Alemão do vizinho se sentia intimidado por ele.

Ai de quem tentasse passar pelo portão, JC(Jean Claude)avançava com suas unhas de Wolverine Tupiniquim e créu, lá saia o intruso carimbado e ardido.

Raposo um pouco entrevado e acabado se dirigiu até a cozinha pra preparar o café, tropeçou várias vezes em JC que insistentemente lhe pedia seu café da manhã.

Raposo até que tentou driblar a bola de pelo faminta de quatro patas, mas não deu.

JC sempre vencia.

E o pior aconteceu.

"Caramba, acabou a comida do JC"

Lá foi Raposo torto, faminto e sonolento ao mercado comprar o banquete de JC.

Estacionou o carro, entrou no EXTRA, driblou 5 donas-de-casa-sem-atenção-passando-em-cima-do-pé-de-todo-mundo, 3 crianças-que-saco-brincando-no-mercado, 4 maridos-lesados-ouvindo-rádio-pra-passar-o-tempo e enfim, chegou a prateleira dos bichinhos.

Procurou a latinha preferida de JC e ao se virar para colocar as 3 latinhas no carrinho.

ZUNSSSPPPPP....

Passa uma criança a toda derrubando lata, lata, lata e Raposo.

"Que droga, mercado parece até sabonete de motel, tem sempre um pentelho que a gente não sabe de quem é."

"Cadê seu papai criancinha fofinha dos infernos?"

"Sai pra lá tio, eu sou o Super-Homem, não me atrapalhe."

"Super-pentelho, é o que vc é, sai daqui senão te taco uma tonelada de Kriptonita,seu peste."

Bom, agora é só ir até a caixa, pagar e ir pra casa.

"Senhor, a sua carteira de identidade por favor?"

"O que, minha filha, carteira de identidade pra pagar 3 latinhas de comida de gato?"

"É norma do mercado senhor."

"Então tá, chama essa Norma aqui e diz que eu quero ver a carteira de identidade dela, a sua e a do dono do Mercado, antes de mostrar a minha."

Depois de discussão, reclamação, objeção, cutucão, palavrão, enfim Raposo consegue voltar pra casa com as latinhas da discórdia.

"Toma Jean Claude, come e não me enche o saco."

"Miauuuuuursrsrsrsr"

Raposo, porém notou que JC estava um pouco arrepiado, talvez irritado, porque será?

Sem que Raposo notasse, BONO, o Pastor Alemão do vizinho o seguiu e entrou em casa, agora é tarde.

Passa a cem por hora Bono e Jean Claude atrás, derrubando, lata, sofá, cadeira, Raposo, tudo que aparece pela frente.
Crew.
Pow.
Zunsk.
Raposo tenta separar os dois e depois de muitos dentes, unhas,línguas, patas, enfim, consegue.

Raposo todo marcado toca no vizinho pra entreguar BONO, ou o que restou dele.

"Pereira, vê se você segura seu cachorro em casa senão meu gato vai acabar com ele."

"Raposo, o Jean Claude tem que ser interditato, ele não é uma gato ele é um louco."

"Olha quem fala.O Bono passeia com a camisa do América, sapatinho pra chuva e foge de gato.Quem será o louco?Ou é louco ou afrescalhado"

Enfim, Raposo, volta pra tomar seu café.

cadê o café?

Cadê a mesa que ele tinha posto?

"Raposo, eu já guardei tudo , isso lá são horas de se tomar café? Vê se acorda mais cedo"

Ai, Matilda, você tem sempre razão.

CAPÍTULO 3 - Apresentando, Matilda.

Raposo, O Idoso Odioso

(APRESENTANDO, MATILDA.)

Matilda era ímpar, brasileira, carioca, esperta, arquiteta, ioguista e com um humor variado.
Era uma pessoa fácil de se lidar, desde que você não pisasse no seu pé, o problema é que seu pé sempre estava embaixo de alguém ou de alguma coisa, então, sai de baixo, ela se transformava.
Mas nada fazia Matilda se transformar tanto quanto quando estava atrás do volante.
Toda aquela educação, fragilidade e ternura...
Iam embora.
Matilda era muito educada e correta dirigindo, este era o problema, pois se algo saia diferente, o sangue esquentava, a adrenalina subia, e boom, se transformava.
Um dia Matilda estava tranqüilamente parada ao sinal, com seu karmanguia amarelo , o mesmo abre, os carros vão aos poucos arrancando, ela espera sua vez pacientemente, acelera, coloca sua seta para a esquerda e pelo retrovisor avista um carro cortando pela contra-mão a sua esquerda.
“Esse cara não vai passar aqui nem que a Vaca tussa.”
O abusado vem e corta a frente do karmanguia amarelo e vira a direita, Matilda calmamente continua, até que seu pára-choque encosta no carro do dito-cujo.
“Num tô nem ai, já tá amassado mesmo.”-pensa Matilda.
Do carro sai um cara mauricinho, engravatado, com cara de nerd de colégio interno.
Ô minha querida, você num me viu convergindo na sua frente não, 'cê tava parada no farol e num me viu.”
Sotaque paulista, Matilda detestava sotaque paulissssta.
Nestas situações ela se fazia de lesada.
“Filhinho(este é pior do que xingamento), eu estou sem meus óculos e não enxergo nada sem eles.”
“Como assim, como pode dirigir sem óculos, 'cê é louca?”
“Pois é esqueci na ioga, enxergo tão mal que daqui não vejo nem seu bigodinho.”
“Ô Loco, eu num tenho bigode.
Eu vou é chamar o guarda pra tirar sua carteira, sua cega louca.”
“Isso mesmo meu filho, me faz esse favor, porque faz dois anos que a minha tá vencida e eu num consigo tirar uma nova.”
“Eu vou é embora, porque a senhora não bate bem, meu.”
E com isso Matilda se sentia realizada, mas uma luta urbana vencida no trânsito.
E quando Matilda via que quem estava no outro carro era outra mulher, ai ninguém segurava.
Perseguições estilo Miami Vice pelas ruas do Rio, freadas bruscas estilo Velozes e Furiosos, e batidas no vidro para intimidar estilo Kojak.
Ai de quem mexesse com ela nestas horas.
Mas hoje era dia de cinema, nada mais a iria irritar, depois do estressante dia de trabalho, aturando seus “colegas” e principalmente seu chefe (afffe), enfim um cineminha com Raposo.
Chegou em casa, tropeçou nos carinhos felinos e esfomeados de Jean Claude, colocou seu potinho de leite, e foi tomar seu banho.
Hoje, Raposo iria levá-la ao cinema, nem acreditava, pois era praticamente impossível para Raposo ir ao cinema durante a semana.
“Muito lotado o cinema durante a semana, cheio de perua encharcada de perfume francês, horroroso, eu num agüento nem respirar”.- dizia Raposo.
Mas ela o convenceu a levá-la pra ver o Antonio Banderas.
“Querido, vamos ver o novo filme do Antonio Bandeiras?”
“Tá bom Matilda, mas só porque tem a Zeta-Jones, porque esse clone do Ney Latorraca eu num agüento.”
Raposo era tão romântico...
Embaixo da água fervendo do chuveiro e praticando seus mantras de relaxamento Matilda ia aos poucos relaxando e se tornando outra mulher.
De repente a água vulcânica de seu escaldante banho se transforma em gotas de gelo infernais, sim, porque para ela o inferno era gelado, Matilda detestava frio.
Fecha correndo a torneira, ainda com sabão nos cabelos e corre para se enxugar, ao sair do banheiro, encontra Raposo entrando no quarto.
“Querido, que bom que você chegou, não sei o que houve com a água, virou um gelo.
Mas tudo bem, liga a TV ai pra ir assistindo enquanto eu me arrumo pra gente sair. Tô loca pra ir ao cinema.”
Raposo, liga a Tv e nada, não, não pode ser, mas uma vez, cadê a energia?
Com aquela confusão no banco também esqueceu de pagar a conta de luz.
E ainda tinha que contar pra Matilda que não pegou dinheiro pra ir ao cinema.
É Raposo, hoje você não sobrevive.
“Matilda, meu amorzinho, preciso te contar uma coisinha...”
Matilda verde:
“R-A-P-O-S-O, eu te maaatoooooooo.”
Essa era Matilda.

CAPÍTULO 2 - Segundo dia dos 65

Raposo, O Idoso Odioso
(Segundo dia dos 65)

Raposo hoje acordou disposto a "abalar geral".
Era o grande dia de ir ao Banco Bradesco.
O dia de colocar seu "poder de idoso odioso" a prova.
Queria ver quem ousaria atrapalhar seus planos.
Colocou sua melhor bermuda e seu inseparável tênis Nike Air.
Não iria nem a praia encontrar os amigos de rede de võlei, hoje era dia de furar fila.
De posse de seu cartão, pegou o ônibus até Botafogo,uma viagem completa pela orla carioca.
Trânsito.
Trânsito.
E Mais...
Trânsito.
Mas hoje era dia de experiências novas, e foi direto aos submundos do metrô.
Furou logo de cara sua primeira fila na bilheteria, fingindo não reparar os olhares indignados dos outros seres pagantes normais.
Passou pela roleta, se dirigiu como um bom atleta a passarela do metrô sentido Centro, com ar de aristrocata entrou no vagão , olhou o interior lotado de gente saindo pelo teto, e parou ao lado de um garotão sentado nos bancos reservados a idosos, gestantes e portadores de deficiência.
Parou com aquele olhar de cachorro em frente aos frangos fritos da padaria, o garotão nada, com seu MP3 aos berros, parecia que nem via Raposo.
"Ai garotão, por obséquio me ceda o lugar."
"Ob o quê dotô?"
"Deixa de palhaçada, você tá sentado em lugar reservado a idosos e etc."
"Ah, tá, e você por acaso é Etc??? Porque idoso tu num pode sê"
"Não, o filhote de cruz-credo eu sou idoso, Sarta fora."
"Ai, tio, dá um tempo, vai enganar outro otário."
"Não sou tio de muleque burro e grosso."
Raposo com seu olhar de John Wayne carioca, sacou de seu cartão de idoso, e provou sua idade.
"Tá aqui o malandro, 65 primaveras."
"Putisgrila tio, tu tá no formol então, tá bom pode sentar ai vovô"
Vovô também era demais, Raposo adorava usufruir de seus diretos mas não suportava ser chamado de vovô.
Deu um pescoção no muleque abusado e botou ele pra fora.
Contrariado sentou-se, mas pensou que sempre existia o outro lado da moeda.
"Que pena"
"Vovô é a vovozinha."
Enfim depois de vários túneis intermináveis chegou a estação Carioca.
Esquecendo o infortúnio do metrô, renovou suas energias ao pensar na sua triunfal entrada na agência.
Atravessou a rua com passos seguros, driblou umas três senhoras que passavam com suas bengalas e sacas de compras das Lojas Mademoiselle Modas, enfim parou a frente da porta giratória do banco.
Gelou:
"Detesto estas portas."
Mas foi, enfrentou seus medos, e quando estava a apenas um quarto de volta do interior da agência...
Pipipipipi, a porta travou e Raposo deu de cara no blindex gelado da mesma.
"Senhor deposite seus pertences na janelinha e volte a entrar na porta de novo, senhor.
"Lá foram para a caixinha, moedas de 5 e 10 centavos, o chaveiro do flamengo, a medalha de São Jorge e pronto, entrar de novo.
Pipipipipi.
"Droga."
"Senhor, a fivela do cinto, senhor.
Deposite por favor na caixinha, senhor."
Lá foi Raposo contrariado, segurando as calças para não dar show na agência.
Fez o que a figura de uniforme pediu.
Passou de novo e ...
Pipipipipi.
"Senhor, o senhor deve estar portando mais algum objeto metálico, coloque-o na caixinha, por favor, senhor"
Raposo não aguentava mais ouvir, senhor, senhor, senhor.
"Meu querido agora o único objeto metálico que eu posso estar carregando é a prótese no meu pipipipipi....
Quer dar uma olhada????".
Pronto lá foi Raposo carregado banco a dentro pelo segurança com toda delicadeza que lhes é peculiar.
Não era essa a entrada triunfal que ele pretendia, porém, estava dentro da agência.
"O dotô, o senhor está desacatando minha autoridade, vou ter que deter o senhor."
"Então dete, dete se tú é macho. Você num sabe com quem tá falando."
Raposo já estava sendo arrastado para a salinha da segurança, quando Silveira apareceu.
"Mas que é isso ô Silva, larga o Raposo ai ele é meu amigo do carteado"
"Sim senhor-dotô-capitão Silveira, copiado senhor."
Amarrotado Raposo foi largado por aquelas mãos irritantes.
Que sorte do Raposo, encontrar o Silveira seu amigo logo na hora que mais precisava.
Bateu um papinho com seu salvador,afinal não via Silveira desde o dia que perdera toda sua poupança na rodada de carteado.
Voltou a caixinha pra recuperar seus pertences,moedas, chaveiro e principalmente seu cinto, porque suas bermudas insistiam em deixá-lo numa situação constrangedora.
Estava recebendo iclusive vários olhares e assobios de senhoras mais animadinhas.
Agora sim, estava na hora de triunfar em sua fila especial.
Olhou para a caixa e...
Procurou seus óculos, no bolso.
"XII, porisso a porta apitou, os óculos estavam no bolso, a que se dane."
Olhou para o caixa de novo.
"Ué cadê todo mundo?"
As caixas estavam todas vazias, mas como pode?
O banco já estava fechado, afinal, sair do Recreio, pegar ônibus, metrô lotado, passar pela porta giratória, ser detido, encontrar o Silveira, bater papo, apertar as calças e achar os óculos para encontrar a fila, não cabiam num dia de horário bancário.
E agora Raposo, como pagar o cinema e o jantarzinho prometido a Patroa?
"Dona Encrenca vai me matar."
Dona Encrenca era Matilda, a esposa odiosa de Raposo.
A última palavra sempre era dela.
Ela era a chefe.
Mas Matilda é outra estória...