Aviso do Raposo

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quarta-feira, 22 de julho de 2009

CAPÍTULO 9 - LIVRE, LEVE E SOLTO


Raposo, o Idoso Odioso

Livre , leve e solto.


Raposo, já não era mais o mesmo.

Não rabujentava mais.

Não ranzinzava mais.

E pior de tudo, estava amigo da sogra.

Ele já não se reconhecia mais, precisava de um tempo pra relaxar, quem sabe até meditar.

Colocou sua sunga da PIER amarela, deu um beijo na testa de Matilda, um abraço apertado em Jean Claude - ou seria ao contrário? -entrou no seu turbinado 147 e foi embora sem rumo.

Sem rumo foi o que ele disse pra Matilda, porém sabia bem pra onde iria.

Ele iria para um lugar onde ele se encontrava com o seu próprio eu, o verdadeiro santuário de Raposo na terra, a Prainha.

Lá era o lugar onde ele esquecia seus problemas e parecia um menino.

Passou pela Praia do Pontal, Praia da Macumba, Praia da Reserva e enfim, seu recanto neste planeta, a Prainha.

Porém, notou de imediato, um sério problema, onde estacionar seu turbinado?

Achou um pedacinho de vaga e deu aquela encostada pra ver o mar.

"Caramba brother - quando chegava neste lugar baixava todo seu espírito de surfista carioca, mas sem problemas iremos traduzir para vocês -tá crowd aqui, e tem muito Paraíba."

Traduzindo: "Caramba irmão tem muita gente surfando aqui, e tem muito banhista que atrapalha as manobras".

Logo, passam dois surfistas garotões por ele.

"Aloha tigrão, o mar hoje tá gringo, vai molhar seu tocossauro , ou vai dar uma de cabrerão?"

Traduzindo: "Bem vindo das antigas, o mar hoje tá excelente, vai molhar sua velha prancha, ou vai dar uma de bundão?"

"Eu não fico de kaô com jaca e jojolão, falou?"

Traduzindo: "Eu não dou conversa pra cara que fica horas para pegar onda e quando pega leva caldo e prego, entendeu?

"E ai, o coroa tá azedo, tomara que tome uma vaca e quebre a fuça."

Traduzindo: "E ai, o coroa tá azedo, tomara que tome um tombão e quebre a cara."

Raposo, desiste de bater boca com aqueles pirralhos, afinal, seu intuito era relaxar e meditar, e com esses malas no caminho ia azedar.

Resolver dar uma puxadinha mais adiante e ir pra próxima praia.

Essa sim tava tranquila, espaço para estacionar, pouca gente na areia e ondas perfeitas, seria seu novo Secret Point. (Ponto Secreto).

Pegou sua Long board (prancha grande), sua Long Jonh (roupa de borracha para o corpo todo) e foi tentar dar seu Drop perfeito (descer a onda da crista até a base).

Água gelada, sol quente, mar grande, ondas perfeitas, o que mais um velho surfista precisaria?

Enfim, sua recarregada de bateria perfeita, horas tranquilas subindo e descendo ondas perfeitas, mostrando toda sua agilidade.

Mas como ninguém é de ferro, muito menos Raposo, era hora de sair um pouquinho e se sentar na areia à beira do mar olhando simplesmente o vai e vem das ondas.

Momento perfeito, quando derrepente, sente uma cutucadinha no ombro.

Raposo vira pra trás e dá de cara com um par de pés cabeludos na areia, vai subindo aos poucos, canela cabeluda, batata cabeluda, coxa cabeluda, ÊPA...

"Mas o que que é isso mermão, essa coisa cabeluda pendurada me olhando ai? Você num tem vergonha não seu safado?"

"Senhor é isso que eu vim lhe avisar, esta é uma praia de nudismo, pra ficar aqui o senhor tem que tirar toda a roupa."

"Você quer dizer tudo, tudinho?"

"É isso ai, ou tira ou sai."

"Você acha que eu vou ficar pelado na frente de um cara cabeludo como você com esse treco pendurado ai? Ce tá maluco, quem garante que você não é um doido assassino, ou pior, uma bicha enrustida"

"Mas tem que tirar senhor."

"Mas nem que a vaca tussa pelada, eu tiro minha roupa, quem é você pra me mandar fazer algo assim?"

"Eu so estou avisando que é a regra aqui da Praia do Abricó, todos ao natural como Deus nos fez."

"E eu lá quero ver você ao natural, num quero ver nem plastificado, imagina ao natural."

"O senhor pode ver que todos aqui estão ao natural, dê uma olhada ao redor."

Realmente, o peludão tinha razão, a observar mais detalhadamente, todos a volta estavam pelados.

Foi a coisa mais grotesca que Raposo já viu na vida.

Um casal de crianças jogando pelada, pelados.

Uma família inteira fazendo picnic, pelados.

Um casal sentadinhos juntinhos, pelados.

Uma senhora fazendo crochê, pelada.

Até os surfistas carregando suas pranchas, pelados.

Raposo pensou, qual seria o problema?

Ninguém o conhecia ali mesmo, e depois a dona encrenca não estava presente.

A barra tava limpa.

Ele estava em forma, então, sem problemas.

Raposo tirou seu Long Jonh e sua sunga PIER amarela e pronto, liberdade.

Mas como era bom ficar assim livre, leve e solto, criar o bicho solto realmente era uma experiência deveras interessante, ainda mais com aquele calorzinho do sol batendo, coisa que estas partes nunca sentiam.

Logo, Raposo sentiu uma vontade desenfreada de andar pela praia com esta sensação maravilhosa de poder aos ventos.

E foi, afinal, o que poderia acontecer de errado?

Começou seu desfile se sentindo um pouco constrangido com alguns olhares, principalmente da velhinha que a esta altura largara o crochê de lado e só tinha olhos pras partes baixas de Raposo.

"Mas que velhinha sapeca."

Raposo, já andava a bastante tempo, estando bem distante de sua Long Board que esperava cravada na areia, e já começava a se sentir poderoso, estando totalmente a vontade, até o momento que parou boquiaberto.

"Noossa, mas que princesinha era aquela?"

Raposo, não conseguia desviar o olhar das partes "ao natural" da bela morena, o problema é que todos estavam reparando na sua indiscrição, e pior, em suas partes "ao natural" também, que insistiam em chamar a atenção, com uma indiscrição cada vez maior.

A bela morena veio caminhando com suas ancas livres a dançar de um lado ao outro em sua direção.

"Ai gatão você tem horas ai?"

Sua indiscrição não parava de crescer e Raposo já não sabia mais o que fazer, a única saída foi correr com sua indiscrição em riste a toda velocidade pra dentro d'água e deixar a morena falando sozinha.

Raposo teve que nadar toda a extensão que tinha andado e talvez mais um pouco para que ninguém o visse sai do mar.

Saiu da água colocando os bofes pra fora e sem nenhuma indiscrição pra contar estória, pois, a água gelada tratou de acabar com ela.

Vestiu sua sunga amarela, sua Long Board, Long John e partiu direto para seu 147.

Tinha vivido muitas emoções para um dia só.

Bastava.