Aviso do Raposo

Os capítulos seguem uma sequência cronológica que por ordem de postagem estão ao contrário.
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quarta-feira, 2 de setembro de 2009

CAPÍTULO 11 - UMA PESQUISA DO BARULHO

Raposo, o Idoso Odioso

Ding Dong.

Nada.

Ding Dong.

Nada.

Diiiing Doooong.

Diiiing Doooong.

“Já vai meu cace@#$%. Gente desesperada não sabe esperar não?”.

Sai Raposo molhado, todo ensaboado de dentro da banheira.

Escorrega no chão, se segura na pia, derruba o perfume, quebra o vidro, corta o dedo do pé.

“Pu$#%$%¨%&%$, ai meu dedo.”

Se enrola na toalha, sai pingando, atravessa a sala e enfim chega até a porta, onde uma criatura, provavelmente Matilda, que esqueceu a chave toca a campainha desesperadamente.

“Bom dia senhor, estaria o senhor disposto a responder nossa pesquisa do Censo Brasil 2009?”.

“Você deve estar de sacanagem meu querido, saí do banho, quase quebrei a coluna, cortei meu dedinho, molhei a casa toda e é somente você? Não tem mais o que fazer não”

“Na verdade senhor, tenho mais 53 pessoas para completar a pesquisa no dia de hoje. O senhor está disponível?”

“Disponível? E lá eu sou programação de TV pra estar disponível? Sarta fora daqui antes que te acerte a fuça.”

Neste exato momento entra Matilda.

“Ô Raposo, isso é maneira de falar com o rapaz? Ele está fazendo o trabalho dele.”

“Que faça o trabalho dele, mas longe daqui, sem em encher o saco.”

“Querido, pode entrar, ele está disponível sim e fará a pesquisa pra você, não é Raposo??”

Quem pode resistir aquele olhar tão doce de menina-possuída-em-filme-de-terror-classe-B de Matilda?

“Claro meu bem, farei a pesquisa pelado e com o maior prazer.”

“Ok, Senhor, então vamos começar:”

“Nome:”

“Raposo Von Shultzer da Silva”

“Pode soletrar o segundo nome?

“Não, isso aqui não é programa do Luciano Huck, se não entendeu num escreve.”

“Idade:”

“Do tempo que era falta de educação perguntar a idade à alguém.”

“Profissão:”

“Não te interessa.”

“Senhor, preciso de dados claros para a pesquisa.”

“Tá ferrado, aqui em casa só tem dado vermelho e preto.”

“O Senhor é tão engraçado né?”

“Tá me chamando de palhaço? Vou parar por aqui.”

“Não, senhor, me desculpe, continuando. Escolaridade:”

“Minha escola é da idade da pedra.”

“Quero dizer, senhor, o grau de instrução:”

“Zero, assim como a minha tolerância.”

“O senhor é casado?”

“Não, sou viúvo, pois vou matar minha mulher assim que você sair por te me torrado o saco pra responder esta pesquisa idiota.”

“Raposoooo”- grita do banheiro Matilda -“Responde o moço direito.”

“Ok Mon amour.”

“Senhor, quantas Tvs o senhor tem em casa?”

“Duas, porque, vai pedir emprestado, perdeu tempo, num empresto.”

“Quantos rádios à pilha?”

“Nenhum, o Zé porteiro me levou todos.”

“Quantas geladeiras?”

“P%%%$%#, uma só né seu mala. Mas num tem lanchinho não”

“Quantos aspiradores de pó?”

“Vem cá, isso é pesquisa, ou vc tá se candidatando a faxineira aqui pra casa, pra que você quer saber isso?”

“É da pesquisa senhor. Falando nisso, quantas empregadas diaristas.”

“Uma só, a senhora sua mãe vem aqui toda terça feira quando tem folga lá no galinheiro.”

“O senhor está me ofendendo.”

“Meu filho, você que é um intrometido, quer saber de tudo. Larga de ser fofoqueiro.”

“OK senhor falta pouco, vou relevar.”

“Relevar não, vc vai é levar essa sua bunda gorda daqui porque já tô de saco cheio.”

“Quantos carros o senhor possui?”Uma Pesq

“Essa é fácil, um Porche Carrera, uma Ferrari vermelha, um Lamborghini e um carro de Funerária, que é aonde vou te dar uma caroninha... Entendeu? Ou quer que desenhe?”

“O senhor tem filhos?”

“Não, mas de vez enquanto aparece um filho da p@#%@%, pra me encher o saco.”

“Agora chega, quem o senhor pensa que é pra falar assim comigo?”

“E eu lá sei, é você quem tá fazendo a pesquisa, não sou eu.”

“Muito engraçadinho, se eu não estivesse trabalhando enfiava a mão na sua cara.”

“Enfia, que eu tô doido pra bater num GBO(grande-bobo-e-otário).”

Em um segundo a sala vira um rinque de vale-tudo, roda Raposo pra lá, roda pesquisador pra cá, toalha num canto, caderno do Censo no outro e Matilda tomando banho não escuta nada.

Os dois se debatendo mais que pipoca na panela, e a essa altura o prédio inteiro já ouvia o barraco.

Quando os dois se dão conta, já estão agarrados rolando pelo hall social e o pior de tudo, Raposo peladão.

A porta do elevador abre e quem aparece?

O Silva e Dona três pontinhos, a sogra.

“Mas o que que é isso Raposo, eu não sabia que tú era dessas coisas, tantos anos seu amigo e nunca reparei nessa sua preferência.”

“Raposo, trair minha filha até vai, porque ela é uma mala e merece, agora com esse barbado ai num dá né. Trocou de lado agora? Que pouca vergonha é essa?”

Raposo, não vê nada nem ninguém, só quer acabar com aquele folgado e nem escuta a sirene da polícia chegando na porta do edifício, que o Zé porteiro chamou.

Matilda acaba seu banho tranqüilamente, nada melhor que um bom banho depois de um dia cansativo.

Uma hora de imersão na banheira, no seu banho de sais e ervas ouvindo suas preferidas no Ipod e está novinha em folha, pronta para convidar Raposo para um passeio no shopping, quem sabe até um teatro?

Coloca seu roupão e suas Havaianas e vai até a sala ver se Raposo já terminou a pesquisa com o simpático rapaz.

“Raposo, você já terminou? Raposo. Raposo. Cadê você?”

A porta aberta, toalha no chão, tudo revirado na sala parece não ser uma boa coisa.

Cacos de vidro espalhados pelo chão do Hall Social, quadros derrubados da parede definitivamente algo estava bem errado ali.

Corre até a janela onde percebe ouvir um certo reboliço, e ao chegar e se debruçar depara-se com uma cena um tanto surreal.

O carro da polícia, sua mãe, o Silva, Raposo peladão, algemado bunda a bunda com o rapaz do censo, e uma multidão de curiosos gritando:

“Esfola, esfola, esfola. Pega essas bichas velhas, sem-vegonha”

Neste exato momento:

Ding Dong.

Ding Dong.

Diiiiing Dooong.

Raposo acorda suado e assustado no sofá e:

“Ufa! Era tudo um pesadelo, ainda bem.”

Corre até a porta e suspira aliviado, é Matilda.

“Oi meu amor, olha que gentil, subi com esse rapazinho super simpático no elevador e ele quer fazer uma pesquisa rapidinho com você, atende ele enquanto eu tomo banho querido.”

“Não, tudo de novo não.....”


quinta-feira, 13 de agosto de 2009

CAPÍTULO 10 - NO INFERNO


RAPOSO, O IDOSO ODIOSO

CAPÍTULO 10 - NO INFERNO

Festa infantil.

Ninguém merece.

E Matilda insistiu que fossem, quem é Raposo pra discordar, ou desmandar?

Lá foi Raposo ao shopping, em plena semana de Dia dos Pais comprar presente para uma criança que ele nem conhece.

"Querido, passa lá no shopping e compra uma lembrancinha pro Miguelzinho, filho da Sandra, minha amiga da Yoga, não fica bem chegarmos sem nada nas mãos a festa."

E lá foi ele.

Sol.

Calor.

Trânsito.

Fila pra pegar o ticket da entrada do shopping.

"Fila pra entrar em shopping, parece pedágio, ou melhor, presságio de que vai estar infernal lá dentro! Ai Raposo o que você não faz pela patroa?"

Ticket na máquina.

Ticket não sai da máquina.

Ticket preso na máquina.

Ticket na mão.

Ticket no chão.

Buzina na traseira.

"Calma ô mané, tô saindo, num sabe esperar não? Num tá vendo que o ticket caiu?"

"Pois é vovô, tem que ficar em casa, num é na entrada do shopping atrapalhando os outros!"

Para que, que a senhora do carro atrás foi falar isso?

Raposo saiu do carro, abaixou, pegou o ticket e encaminhou-se até a janela do Mitsubishi da madame.

Esta trancou a porta e subiu o vidro, com isso Raposo, olhou bem fundo na cara da perua e fazendo gestos de comunicação de mudos, passando com a mão na frente do rosto e mexendo com os lábios, sem nenhum som.

"A senhora é muuuitto feeeiaaa!!!"

Pronto, Raposo já tava vingado.

Ele aprendeu que não precisa xingar perua com nomes feios, é só chamar de velha, gorda e feia, não tem maior ofensa.

Entrou no Shopping, enfim, ar-condicionado gelado, pelo menos, mas, e o vírus da gripe?

Deixa pra lá, melhor gripe do que um calor dos infernos, mas se pegar gripe pode ir pros infernos, bom, sei lá, seja o que Deus quiser.

Shopping lotado.

Crianças gritando.

Vozes altas.

Roupas coloridas e cafonas.

Peruas de salto alto.

Pra que salto alto no shopping?

Marombadinhos de bermuda e tênis.

Cafonas de chinelos.

Mauricinhos com camisa La Coste pra dentro da calça.

Velhinhas com cabelos vermelhos.

Crianças de maria chiquinha.

Poposudas de micro shortinho com celulites pulando pra fora.

Raposo conclui.

"Pensando bem, acho que já tô no inferno."

Loja de brinquedo, pronto, agora se sentia em casa, o difícil era comprar para outra criança, pois tudo que via queria pra ele.

Afinal, Raposo ainda era uma criança, tinha alma de criança.

Duas horas na sessão dos carrinhos.

Uma hora na sessão de bonequinhos.

Dez segundos na sessão de jogos educativos.

Um micro segundo na estante da Barbie.

“Boneca cafona!!!”

Três horas e trinta e cinco minutos no caixa pra pagar.

Mais quarenta e cinco minutos pra liberar o cartão.

“Inferno!”

Presente escolhido.

Presente comprado.

Um pro menino.

Três pra ele.

Dois bonecos maneiríssimos e um carrinho Matchbox edição limitada.

Pro menino, Raposo nem lembrava mesmo o que era.

Porta da casa de festas.

Fila.

Manobristas.

“De jeito nenhum, ninguém pega no meu possante.”

Estaciona a 10 km de distância.

Matilda reclama.

Porta da casa de festas.

"Raposo entrega o presente pra moça da portaria."

"Presente, que presente, você não pegou no carro?"

Volta Raposo, 10 km, pega o presente, mais 10 km.

Porta da casa de festas.

Matilda reclama.

Desvia dos raios fulminantes do olhar de Matilda.

Entra na casa de festas.

Som alto.

Crianças.

Bolas.

Crianças.

Enfeites.

Crianças.

Doces.

Crianças.

Adultos fantasiados iguais idiotas.

Crianças.

"Matilda, precisava ter tanta criança?"

"Raposo, o que você queria, a velharada da sua rede de vôlei? Isso é uma festa de criança, tem que ter criança."

"Uma ou duas, mas isso tudo num aguento. Festa de criança é igual sabonete de motel, tem sempre um pentelho que você não sabe de quem que é."

"Raposo, senta e num reclama. Chama o Silveira pra conversar com você."

"E ai Silveira, tudo indo?"

"O quê, se eu tô caindo?"

"Não Silveira, como vai indo a vida, tá boa?"

"Caindo de canoa?"

“Silveira e como está a Patrícia?

“Se eu to com icterícia, que nada, só não tenho pego muito sol.”

“Pois é, tô sabendo, muito trabalho na ponte do anil.”

“O que é isso seu grosso, mal educado, estou conversando direito e você com indelicadezas pra cima de mim.”

“Não Silveira, você é que ta muco.”

“Claro que to Put..., você tá me xingando.”

Raposo desiste, conversar com esta barulheira e ainda mais com o surdo do Silveira não dá, é um inferno.

O jeito é comer salgadinhos.

Passa uma bandeja de croquete.

Raposo estica o braço, sete mãos chegam antes e levam tudo.

"Eita meninada mal educada."

Passa uma bandeja de refrigerante.

Raposo vai pegar uma Coca, bebe, num é Coca, é Pepsi, diet e sem gás.

"Caraca, porque toda festa infantil tem Pepsi ao invés de Coca, que inferno, coisa ruim."

Passa uma bandeja de risólis.

Raposo ataca.

"Agora eu pego, é de camarão?"

"Ô dotô, se fosse de camarão o senhor acha que ia tá servindo, eu comia tudo, é de frango mermo."

"Pô, meu camarada, mas tira o dedo do risólis."

"Num posso, senhor, tô com uma micose e o Doutor mandô colocar o dedo sempre num lugar quentinho."

"Ô seu porco, então enfia esse dedo no ...."

"Tava lá Doutor, mas na hora de servir tenho que disfarçar né."

"Vou te meter a mão na sua cara, seu imundo."

Chegou a turma do deixa disso e Matilda pra acalmar Raposo.

"Tá calminho agora?"

"Tô, mas tô com fome. Inferno."

Foram embora.

Raposo não aguentava mais, estava doido pra chegar em casa e enfim ter paz e silêncio.

Senta no sofá, liga a TV, Matilda chega com uma bandejinha com seu sanduíche predileto e COCA-COLA.

"Agora sim, comida, Coca, Matila e paz. Isso é que é vida."

Matilda, senta, faz um cafuné no Raposo e pergunta.

"O que tem na TV meu amor?"

"Poeira."

Pronto, começou o inferno de novo.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

CAPÍTULO 9 - LIVRE, LEVE E SOLTO


Raposo, o Idoso Odioso

Livre , leve e solto.


Raposo, já não era mais o mesmo.

Não rabujentava mais.

Não ranzinzava mais.

E pior de tudo, estava amigo da sogra.

Ele já não se reconhecia mais, precisava de um tempo pra relaxar, quem sabe até meditar.

Colocou sua sunga da PIER amarela, deu um beijo na testa de Matilda, um abraço apertado em Jean Claude - ou seria ao contrário? -entrou no seu turbinado 147 e foi embora sem rumo.

Sem rumo foi o que ele disse pra Matilda, porém sabia bem pra onde iria.

Ele iria para um lugar onde ele se encontrava com o seu próprio eu, o verdadeiro santuário de Raposo na terra, a Prainha.

Lá era o lugar onde ele esquecia seus problemas e parecia um menino.

Passou pela Praia do Pontal, Praia da Macumba, Praia da Reserva e enfim, seu recanto neste planeta, a Prainha.

Porém, notou de imediato, um sério problema, onde estacionar seu turbinado?

Achou um pedacinho de vaga e deu aquela encostada pra ver o mar.

"Caramba brother - quando chegava neste lugar baixava todo seu espírito de surfista carioca, mas sem problemas iremos traduzir para vocês -tá crowd aqui, e tem muito Paraíba."

Traduzindo: "Caramba irmão tem muita gente surfando aqui, e tem muito banhista que atrapalha as manobras".

Logo, passam dois surfistas garotões por ele.

"Aloha tigrão, o mar hoje tá gringo, vai molhar seu tocossauro , ou vai dar uma de cabrerão?"

Traduzindo: "Bem vindo das antigas, o mar hoje tá excelente, vai molhar sua velha prancha, ou vai dar uma de bundão?"

"Eu não fico de kaô com jaca e jojolão, falou?"

Traduzindo: "Eu não dou conversa pra cara que fica horas para pegar onda e quando pega leva caldo e prego, entendeu?

"E ai, o coroa tá azedo, tomara que tome uma vaca e quebre a fuça."

Traduzindo: "E ai, o coroa tá azedo, tomara que tome um tombão e quebre a cara."

Raposo, desiste de bater boca com aqueles pirralhos, afinal, seu intuito era relaxar e meditar, e com esses malas no caminho ia azedar.

Resolver dar uma puxadinha mais adiante e ir pra próxima praia.

Essa sim tava tranquila, espaço para estacionar, pouca gente na areia e ondas perfeitas, seria seu novo Secret Point. (Ponto Secreto).

Pegou sua Long board (prancha grande), sua Long Jonh (roupa de borracha para o corpo todo) e foi tentar dar seu Drop perfeito (descer a onda da crista até a base).

Água gelada, sol quente, mar grande, ondas perfeitas, o que mais um velho surfista precisaria?

Enfim, sua recarregada de bateria perfeita, horas tranquilas subindo e descendo ondas perfeitas, mostrando toda sua agilidade.

Mas como ninguém é de ferro, muito menos Raposo, era hora de sair um pouquinho e se sentar na areia à beira do mar olhando simplesmente o vai e vem das ondas.

Momento perfeito, quando derrepente, sente uma cutucadinha no ombro.

Raposo vira pra trás e dá de cara com um par de pés cabeludos na areia, vai subindo aos poucos, canela cabeluda, batata cabeluda, coxa cabeluda, ÊPA...

"Mas o que que é isso mermão, essa coisa cabeluda pendurada me olhando ai? Você num tem vergonha não seu safado?"

"Senhor é isso que eu vim lhe avisar, esta é uma praia de nudismo, pra ficar aqui o senhor tem que tirar toda a roupa."

"Você quer dizer tudo, tudinho?"

"É isso ai, ou tira ou sai."

"Você acha que eu vou ficar pelado na frente de um cara cabeludo como você com esse treco pendurado ai? Ce tá maluco, quem garante que você não é um doido assassino, ou pior, uma bicha enrustida"

"Mas tem que tirar senhor."

"Mas nem que a vaca tussa pelada, eu tiro minha roupa, quem é você pra me mandar fazer algo assim?"

"Eu so estou avisando que é a regra aqui da Praia do Abricó, todos ao natural como Deus nos fez."

"E eu lá quero ver você ao natural, num quero ver nem plastificado, imagina ao natural."

"O senhor pode ver que todos aqui estão ao natural, dê uma olhada ao redor."

Realmente, o peludão tinha razão, a observar mais detalhadamente, todos a volta estavam pelados.

Foi a coisa mais grotesca que Raposo já viu na vida.

Um casal de crianças jogando pelada, pelados.

Uma família inteira fazendo picnic, pelados.

Um casal sentadinhos juntinhos, pelados.

Uma senhora fazendo crochê, pelada.

Até os surfistas carregando suas pranchas, pelados.

Raposo pensou, qual seria o problema?

Ninguém o conhecia ali mesmo, e depois a dona encrenca não estava presente.

A barra tava limpa.

Ele estava em forma, então, sem problemas.

Raposo tirou seu Long Jonh e sua sunga PIER amarela e pronto, liberdade.

Mas como era bom ficar assim livre, leve e solto, criar o bicho solto realmente era uma experiência deveras interessante, ainda mais com aquele calorzinho do sol batendo, coisa que estas partes nunca sentiam.

Logo, Raposo sentiu uma vontade desenfreada de andar pela praia com esta sensação maravilhosa de poder aos ventos.

E foi, afinal, o que poderia acontecer de errado?

Começou seu desfile se sentindo um pouco constrangido com alguns olhares, principalmente da velhinha que a esta altura largara o crochê de lado e só tinha olhos pras partes baixas de Raposo.

"Mas que velhinha sapeca."

Raposo, já andava a bastante tempo, estando bem distante de sua Long Board que esperava cravada na areia, e já começava a se sentir poderoso, estando totalmente a vontade, até o momento que parou boquiaberto.

"Noossa, mas que princesinha era aquela?"

Raposo, não conseguia desviar o olhar das partes "ao natural" da bela morena, o problema é que todos estavam reparando na sua indiscrição, e pior, em suas partes "ao natural" também, que insistiam em chamar a atenção, com uma indiscrição cada vez maior.

A bela morena veio caminhando com suas ancas livres a dançar de um lado ao outro em sua direção.

"Ai gatão você tem horas ai?"

Sua indiscrição não parava de crescer e Raposo já não sabia mais o que fazer, a única saída foi correr com sua indiscrição em riste a toda velocidade pra dentro d'água e deixar a morena falando sozinha.

Raposo teve que nadar toda a extensão que tinha andado e talvez mais um pouco para que ninguém o visse sai do mar.

Saiu da água colocando os bofes pra fora e sem nenhuma indiscrição pra contar estória, pois, a água gelada tratou de acabar com ela.

Vestiu sua sunga amarela, sua Long Board, Long John e partiu direto para seu 147.

Tinha vivido muitas emoções para um dia só.

Bastava.